Dia Nacional da Conservação do Solo – O Que Comemorar?
No dia 15 de abril comemorou-se em todo o País, o Dia Nacional da Conservação do Solo.
Esta data foi instituída pela Lei Federal n 7.876, de 13 de novembro de 1989, que determina no seu artigo 1º:
“Fica instituído o Dia Nacional da Conservação do Solo a ser comemorado, em todo o País, no dia 15 de abril de cada ano”.
A criação desta data demonstra a importância dos solos para a sociedade, já que os solos são considerados como um patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas – ONU.
Entre os recursos naturais, os solos podem ser considerados como um dos recursos mais importantes, tendo em vista a sua função essencial de permitir o desenvolvimento dos cultivos para a produção de alimentos, garantindo a subsistência da humanidade.
Trata-se de um recurso natural indispensável à vida humana, essencial para o equilíbrio do meio ambiente, sendo um dos elementos fundamentais da biosfera, tendo em vista a sua função essencial para o equilíbrio dos ecossistemas terrestres.
Infelizmente, no “Dia Nacional da Conservação do Solo”, não temos muito a comemorar. Vários são os problemas de degradação dos solos que atingem amplas áreas agrícolas em todo o País, sendo este um problema bastante grave em várias regiões.
Em vários Estados das regiões Sul e Centro Sul do País a erosão do solo vêm degradando milhares de hectares de terras agrícolas todos os anos, trazendo como conseqüências deste processo, a perda de solos férteis, o assoreamento dos cursos d’água, a poluição dos mananciais, e a degradação dos ecossistemas como um todo.
O fenômeno erosivo tem acarretado conseqüências econômicas, sociais e ambientais gravíssimas para as populações daqueles estados, que sofrem constantemente com os seus efeitos.
Segundo dados de pesquisa, estima-se que “80% da área cultivada do Estado de São Paulo esteja sofrendo processo erosivo além dos limites de tolerância, causando perdas de 194 milhões de toneladas de terra/ano – BELLINAZZI et al. , 1981 apud VISCHI FILHO et al., 2010.
O Rio Grande do Sul perde a cada ano cerca de 242,4 milhões de toneladas de solo. Isto corresponde a cerca de 120 mil hectares; ou seja, 2% de sua área cultivada. PETROBRÁS, 1987.
Devido a práticas incorretas de cultivo e mau uso dos solos, em poucos anos foram destruídos milhares de hectares de terras no Município de Alegrete, sendo que esta região encontra-se em processo de pré-desertificação, pela ação humana, apesar dos esforços que tem sido empreendidos pelos técnicos daquele Estado para debelar este fenômeno nocivo.
O processo de desertificação provoca impactos ambientais, sociais e econômicos seríssimos, como a destruição da biodiversidade, como a flora e a fauna, diminuição da disponibilidade de recursos hídricos, redução do potencial biológico da terra, redução da produtividade agrícola, com prejuízos econômicos e sociais para as populações – BRASIL, 1993.
Segundo a Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil, o nosso País perde a cada ano cerca de 600 milhões de toneladas de solo agrícola devido à erosão e ao mau uso.
Com as perdas de solo agrícola perdem-se também nutrientes, elevando-se extremamente os custos para repô-los por meio de fertilizantes e corretivos, o que significa um enorme prejuízo para a agricultura – PETROBRÁS, 1987.
Os processos erosivos, além da perda de solo agrícola, geram outras conseqüências seríssimas para o meio ambiente, tais como:
O assoreamento dos mananciais,
A poluição do solo e da água,
Os impactos ambientais negativos sobre a saúde humana,
A destruição de propriedades privadas,
A destruição de bens públicos, como estradas, barragens, escolas, hospitais
A destruição de milhares de hectares de cultivos agrícolas, gerando desta forma, um enorme passivo ambiental, com conseqüências econômicas e sociais terríveis.
Na região semi-árida Nordestina, os problemas de degradação dos solos são também muito graves, sendo que vem crescendo assustadoramente nas últimas décadas.
Um grave problema que ocorre atualmente na região semi-árida nordestina é a degradação de solos em áreas irrigadas.
A ocupação de grandes áreas por projetos de irrigação na região Nordeste, sem os devidos cuidados técnicos, tem resultado em mudanças nas características naturais dos solos, causando fenômenos nocivos como a salinização, a sodificação e a compactação dos solos.
A salinização é um grave problema que ocorre nas áreas irrigadas do semi-árido Nordestino. Os fatores centrais da salinização de um solo estão ligados à aridez do clima e ao manejo da água e do solo.
Os climas secos e quentes apresentam índices elevados de remoção de água da superfície por evaporação. Com a evaporação, todo o conteúdo de sais da água é deixado na superfície ou próximo a esta.
O excesso de sais no solo inibe o crescimento da maioria das plantas cultivadas, ocasiona problemas de toxidez, influenciando negativamente na produtividade dos cultivos.
Em se tratando de regiões semi-áridas, constitui-se em um sério problema, limitando a produção agrícola e reduzindo a produtividade dos cultivos a níveis anti-econômicos.
Segundo OLIVEIRA (1997) :
“No Nordeste semi-árido, as maiores incidências de áreas salinizadas com salinização secundária, se concentram nas terras mais intensamente cultivadas com o uso da irrigação”.
(…) “A salinidade induzida em áreas do semi-árido nordestino, tem trazido problemas de produtividade das plantas cultivadas em extensas áreas.”
“Tais efeitos contribuem para desorganização da economia secularmente débil da região, e quando ocorre em áreas de projetos de colonização do Nordeste, conhecidos como “Perímetros Irrigados” do semi-árido, os efeitos sociais negativos se tornam mais evidentes”.
Dados de pesquisa demonstram que no Brasil, aproximadamente nove milhões de hectares encontram-se afetados por sais, em sete Estados – salinização por fatores naturais, e salinização induzida por irrigação.
A maior área de solos afetados por sais está no Estado da Bahia – 44% do total, seguido pelo Ceará que representa 25,5% da área total do País. GHEYI & FAGERIA,1997.
Na região dos cerrados, existem atualmente sérios problemas de degradação física do solo, sendo a compactação um importante processo que ocorre com freqüência nesta região, devido ao uso intensivo de máquinas e implementos agrícolas.
Os horizontes dos solos ao se tornarem compactados, diminuem a capacidade de infiltração e armazenamento da água, bem como a penetração de raízes dos cultivos.
A mecanização intensiva do solo altera a sua estrutura original, influenciando também na atividade biológica. O constante revolvimento da camada arável desestrutura o solo, expondo-o aos processos erosivos.
Conforme discutido neste artigo, os dados de pesquisa revelam uma situação séria e pouco promissora para a conservação dos solos no nosso País, demonstrando o perigo a que está exposto este importante recurso natural, principalmente porque os problemas citados não foram equacionados pelos Governos e portanto seguem se agravando.
Como é fácil notar, infelizmente não há o que se comemorar no Dia Nacional da Conservação do Solo ! Na realidade, devemos ficar em posição de alerta para a atual situação.
Os processos de degradação dos solos avançam a passos largos no nosso País, sendo que a degradação do solo afigura-se como um grave problema que afeta amplas áreas agrícolas no mundo, aonde a principal riqueza tem sido tradicionalmente a agricultura.
Para reverter a situação atual, faz-se necessário a instituição de políticas públicas sérias pelos Governos Estaduais e Federal, que contemplem com prioridade a área de manejo e conservação dos solos e das águas.
Caso contrário, estaremos fadados a seguir tratando os nossos solos como o faziam os nossos colonizadores, há 500 anos atrás, queimando-os, degradando-os, utilizando-os intensivamente, até exauri-los.
Artigo de Antonio Mario Reis de Azevedo Coutinho – Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – Laboratório de Solos – Mestre em Geoquímica e Meio Ambiente – M.Sc.
E-mail : coutinhoagroecologia@yahoo.com.br
EcoDebate, 16/04/2012