Correia do Norte – Catástrofe Nuclear – II
Correia do Norte – Catástrofe Nuclear – II
O último teste nuclear de 3 de setembro de 2017, desta vez uma bomba de hidrogênio, realizado pela Coréia do Norte reacende as preocupações com a possibilidade de um conflito nuclear mundial. Apesar das sanções da ONU (econômicas e militares) o regime de Kim Jong-Un segue na sua saga de desenvolver um programa de armamentos nucleares e afirma que já chegou ao tamanho de ogiva capaz de ser lançado por um míssil balístico. A foto abaixo mostra o artefato testado e se a foto corresponde ao artefato do teste, seria uma prova de que realmente a Correia do Norte atingiu a meta de construir uma ogiva transportável por um míssil balístico.
A veracidade desta informação carece de comprovação independente, de difícil realização dada à natureza de sigilo desta matéria e do regime fechado da Coréia do Norte.
As negociações que levaram ao acordo com o Irã, por enquanto, foram capazes de frear o programa nuclear daquele país, evitando um potencial conflito com Israel e demais vizinhos. A ABIDES avaliava a exato um ano atraz, antes do histórico acordo, assumindo que o Irã decidiu construir uma bomba nuclear para atacar seus inimigos em agosto de 2010 e os passos para alcançar este artefato, que o prazo mais otimista para o Irã ser capaz de lançar um ataque nuclear com um míssil seria novembro 2024 e o pior caso seria junho de 2033 – em suma, o Irã precisaria de mais 12 anos para lançar um ataque nuclear, de forma otimista.
Se aplicarmos um paralelismo entre o caso Irã e o caso Coréia do Norte e considerando que a Coréia do Norte já venceu a fase de obter uma Bomba Real Miniaturizada (Figura Abaixo) em 10 anos de testes, seriam necessários mais dois anos (um ano a contar de setembro de 2017) para atingir a condição de lançamento de um míssil nuclearmente armado, ou seja, setembro de 2018.
Esta hipótese é bastante preocupante, pois não há indicativo até o momento de uma negociação efetiva capaz de frear o programa da Coréia do Norte e o prazo estimado é muito curto para que as sanções adicionais da ONU ou mesmo pressões da China (Principal aliado de Kim Jong-Un) possam ter o efeito necessário.
Em termos globais, a distribuição de armas nucleares no mundo se apresenta conforme a lista abaixo:
USA: 7300 armas nucleares
Rússia: 6970 armas nucleares
França: 300 armas nucleares
China: 260 armas nucleares
Inglaterra: 215 armas nucleares
Paquistão: 130 armas nucleares
Índia: 120 armas nucleares
Israel: 80 armas nucleares
Coréia do Norte: < 15 armas nucleares
TOTAL: 15375 armas nucleares
O fato de o Conselho de Segurança Permanente da ONU ser composto exatamente pelos 5 países armados nuclearmente pelas regras do TNP (Tratado de Não Proliferação), a saber, EUA, Rússia, França, Inglaterra e China é um indicativo de que o poder mundial se baseia na posse de amplos arsenais nucleares, fator este que coloca em cheque a vontade da comunidade internacional em banir as armas nucleares e construir um mundo de verdadeira paz.
Entrar neste clube fechado, ou ser pelo menos aceita como uma potencia nuclear, como os casos da Índia e Paquistão, que possuem arsenais nucleares fora do TNP poderia ser uma meta do regime Norte Coreano, se tornando um player global. Mas o grau de conflitos da Coreia do Norte com o bloco ocidental, a rivalidade histórica com a Correia do Sul e o desiquilíbrio estratégico que uma Coreia do Norte nuclearizada traria para a região da Ásia, impedem esta aceitação.
O próprio TNP prevê mecanismo para incentivar os Estados que têm armamentos nucleares a cessar a corrida armamentista e buscar o desarmamento completo, sob escrutínio internacional.
Claro que este objetivo está longe de ser atingido, basta ver os números acima apresentados, mesmo considerando os acordos de redução dos arsenais dos EUA e Rússia, até então efetivados. Portanto seria utópico supor que os detentores do poder nuclear serão capazes, em curto prazo, de reduzir significadamente os arsenais e muito menos eliminá-los.
Resta como alternativa uma estratégia via uma série de compromissos (Road Map) evolutivos e viáveis que na nossa visão deve contemplar:
– redução/eliminação dos arsenais de Israel, Índia e Paquistão;
– concomitantemente, buscar um tratado de redução/eliminação dos arsenais dos 5 países armados dentro do TNP;
– abertura de duas novas vagas no Conselho Permanente de Segurança da ONU (CPS-ONU) para um país da América do Sul (Brasil) e da África (África do Sul) para tirar o caráter bélico nuclear do conselho;
– imediata ação do CPS-ONU sobre a Coréia do Norte para a realização de um acordo nos moldes do acordo com o Irã para evitar a eminente capacidade daquele país em lançar um ataque nuclear.
A ameaça Norte Coreana indica que estamos chegando no limite para a questão do desarmamento nuclear. Os regimes diferenciados do TNP que favorecem a manutenção de 15.375 armas nucleares, tanto dentro como fora do TNP, é um quadro inaceitável, que coloca em risco a sobrevivência da própria humanidade, o que requer uma nova visão, principalmente dos detentores do poder nuclear mundial, que com sua postura leniente somente justifica aventuras de países como Israel, Índia, Paquistão e agora Coréia do Norte, rumo à insanidade de um conflito nuclear.
Estes países deverão definitivamente abrir mão de privilégios e posições intransigentes e colocar imediatamente em prática os mecanismos do TNP que propugnam o desarmamento nuclear total.
O Brasil já fez suas concessões ao assinar e ratificar o TNP, apesar de sua assimetria, e temos a condição moral de exigir um posicionamento consequente e efetivo das potencias nucleares que caso não ocorra, deveremos repensar nossa adesão ao TNP.
Eng. Nuclear Everton Carvalho – Cuiabá 12/09/2017
Presidente da ABIDES